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Vou começar por abordar os produtos financeiros mais conhecidos e utilizados por qualquer cidadão.
Isso mesmo, são os depósitos a prazo.
No entanto, embora muitas pessoa os conheçam, a questão que se põe é: quanto conhecem?
Versão Super-reduzida
Melhores depósitos a prazo? Onde? Ver aqui ou aqui as listas, que costumam ser as mais atualizadas e abrangentes.
Versão Alongada
Os depósitos a prazo (abreviando - DP) são uma espécie de empréstimo que fazemos ao banco, sobre o qual recebemos juros. No entanto não devem ser confundidos com os chamados títulos de dívida, também conhecidos como obrigações, os quais têm propriedades diferentes. Falarei desta classe de aplicações noutra altura.
Taxas de Juro
É para isto que os olhos nos saltam mal vemos um DP, que se traduz na simples pergunta: quanto é que ganho com isto?
Todos os depósitos a prazo (e muitos dos restantes produtos financeiros com rendimentos fixos) gostam muito de apresentar tudo sobre a forma de TANB, que não é nada mais nada menos do que uma sigla para Taxa Anual Nominal Bruta, expressa em %. Isto quer dizer que para uma TANB de 5%, por exemplo, nos dão 5% do dinheiro que lá pusemos, por ano.
Vamos frisar aqui um detalhe que já vi baralhar muito boa gente. 5% POR ANO. Isto quer dizer que se o dinheiro estiver lá menos de um ano, recebe-se menos que a TANB. Pondo isto em exemplos, um DP com 5% TANB e com duração de 6 meses dá um juro total de 2.5%; se a duração for 3 meses dá um juro de 1.25%, e por aí adiante.
Logo, fazer dois depósitos a prazo com 5% a 6 meses um a seguir ao outro NÃO É mais vantajoso que fazer um DP com 5% a 1 ano.
E o que é que quer dizer bruta?
Muito simples. Significa que o dinheiro dos juros que nos chega aos bolsos ainda vai sofrer um roubo brutal, chamado imposto. Ou pondo em termos mais elegantes, está sujeito a retenções na fonte, a uma taxa liberatória.
Taxa liberatória? Mas o que vem a ser isso?
Trata-se de uma percentagem de dinheiro que o estado graciosamente liberta da nossa posse e recolhe nos seus cofres. Este ano essa taxa tem o valor de 25%. Sim, isso mesmo. Por cada 100€ de juros que recebemos nos depósitos, damos 25€ ao estado. Já não podem dizer que o povo português nunca faz nada pelo seu país...
O que é que sobra depois desta fantochada? É a Taxa Anual Nominal Líquida, ou TANL. Mas como esta está dependente daquilo que o estado nos decide libertar, o que pode mudar de um ano para o outro, o comum é usar-se a TANB como modelo para comparação.
Tipos de depósitos
Os depósitos podem ser constituídos essencialmente de três formas:
1 - Prazo fixo com uma única entrega de dinheiro
É o caso mais básico de todos, onde se entrega ao banco dinheiro por um tempo fixo, recebendo-se o dinheiro no final com os juros.
2 - Prazo fixo com entrega de reforços
Parecido com a 1ª situação, só que neste caso uma pessoa pode acrescentar dinheiro ao depósito antes deste acabar. Esse reforço pode ser obrigatório ou opcional, com um valor fixo ou variável, dependendo do DP em causa. Resumindo: há sabores para todos os gostos.
3 - Conta poupança
Esta é aquela que tem maior flexibilidade, pois permite não só reforçar com mais dinheiro, como também permite retirá-lo. Normalmente pagam menos juros do que nos primeiros casos, como contrapartida de não termos lá dinheiro quietinho, com o qual o banco possa sempre contar.
Mobilização antecipada
Por vários motivos, podemos ter necessidade de retirar o dinheiro que depositámos antes do prazo previsto para o DP. O que acontece se o fizermos? Tudo depende do DP que constituímos. Podemos agrupá-los em três casos.
1 - Não mobilizável
Quer mexer no dinheiro? Pois tenha paciência, amigo(a), que neste dinheiro não toca até o prazo acabar.
Nestes casos geralmente as taxas oferecidas são mais altas ou têm pagamento antecipado dos juros, à custa de não podermos levantar esse dinheiro por muito que queiramos.
2 - Mobilizável com penalização
Ah quer o dinheiro de volta? Pois sim, mas os juros ficam cá!
É muito provavelmente a modalidade mais comum. Podemos retirar de lá o dinheiro, mas ou não recebemos juros nenhuns (penalização total) ou só uma parte (penalização parcial). Logo é pouco recomendável mexer nestes DPs a não ser mesmo em último caso.
3 - Mobilizável sem penalização
O seu dinheiro? Pois claro que o devolvemos! E ainda leva os juros que rendeu até ao momento!
Estes DPs são bichos mais raros. Permitem que levantemos o dinheiro sem perdermos os juros. Normalmente são contas poupança, que têm um juro geralmente mais baixo, mas têm esta flexibilidade. O levantamento pode estar restrito a alguns períodos (exemplo: cada inicio de trimestre) ou então pode ser feito a qualquer altura. São produtos bons para ter alguns fundos de emergência, facilmente mobilizáveis, embora com um rendimento modesto.
Mas, como em tudo, há algumas excepções.
É dinheiro seguro?
Estamos num período em que muita incerteza paira no ar, havendo os que espalham o pânico, proclamando aos quatro ventos que estamos todos tramados, que os bancos vão à vida e perdemos todo o nosso dinheiro.
Apesar de tudo, os depósitos a prazo são das aplicações de mais baixo risco que podemos fazer. Por normas europeias, existem mecanismos de protecção que salvaguardam o nosso rico dinheirinho de se esfumar facilmente perante os nossos olhos.
Logo, quando alguém vos tentar convencer a ir para uma aplicação xyz, dizendo que é para salvaguardar contra a crise em Portugal, digam "Alto lá!"
Isto porque as únicas coisas mais seguras do que depósitos a prazo em Portugal (cuja banca não está nos seus melhores dias, concordo) são depósitos a prazo feitos em países estrangeiros com as finanças mais direitas. Isso, e as famosas obrigações do estado alemão, que é uma referência mundial a nível de segurança e garantia de pagamento das suas dívidas.
O outro risco dos depósitos, para além da falência dos bancos, é no caso de uma hipotética saída do euro e da conversão de todos os nossos € num novo escudo que irá valer menos.... Mas este tópico fica para outras núpcias.
Como escolher?
E aqui está a questão dourada. A resposta simples é: procurar a maior TANB possível.
A resposta mais elaborada é: procurar a maior TANB possível, olhando para o prazo do depósito que se vai fazer, de necessidades de dinheiro que se possa vir a ter, das condições de mobilização, e da tendências de subida ou de descida das taxas oferecidas pelos bancos .
Por exemplo: há dois anos atrás os bancos praticavam taxas relativamente baixas. No entanto começou-se a observar que as taxas oferecidas começaram a aumentar, como resultado das taxas de juro que servem de referência na Europa e do buraco para onde José Sócrates e seus felizes boys estavam a orientar a economia do país.
Num cenário destes, a melhor estratégia foi fazer depósitos com prazos curtos, pois todos estavam à espera que as taxas continuassem a subir.
Dando um salto para Novembro de 2011, o banco de Portugal lançou uma medida que penalizou os bancos que pagavam juros elevados nos seus DPs. Desde então tem-se observado uma queda das melhores taxas de juro, que é para continuar enquanto a própria Europa continuar a baixar as suas taxas de referência e (reze-se a Deus) se a crise da dívida pública se atenuar.
Nestas condições, pode não ser uma má ideia procurar prazos maiores para nos prevenirmos contra mais descidas.
Deixo uma ressalva, para as pessoas que julgam vir a precisar de mexer nas suas poupanças no curto prazo. Não façam nada por prazos longos, não-mobilizáveis.
Todo este discurso é muito bonito, mas como encontrar as melhores taxas, interrogam-se vocês?
Felizmente estamos numa era de informação, onde quase tudo se encontra na internet e há listas e tabelas para quase todos e quaisquer assuntos. DPs não são excepção.
De todos os sites que conheço, estes são os que têm listas mais completa.
Ao contrário de muitas, estas incluem os bancos pequenos, que são precisamente os que oferecem as melhores taxas. Destaco e recomendo o PrivatBank, um banco letão com uma sucursal em Portugal; e o banco Invest, um banco português de investimento.
Ah, mas não tenho conta nesses bancos! Custa-me dinheiro ter contas nesses bancos?
Tranquilos. Regra geral, os bancos pequenos e/ou online, para além de terem as melhores taxas, não têm despesas de manutenção (excluindo o Finantia). Pode ficar com a conta a 00 que eles não vão tirar dinheiro a ninguém. O único entrave é possuírem poucos centros de investimento (que são balcões, mas com um nome mais fino), podendo ficar longe de muitas pessoas. Mas todos possibilitam abertura de conta à distância com envio de documentos pelo correio, logo que isso não impeça ninguém de os experimentar.
Muitos bancos também gostam de atrair clientes com os depósitos com taxas de juros crescentes, realçando a taxa do último período, que é a mais elevada. Mas o que importa é a taxa média. Por exemplo, temos o depósito outro 6 meses do banco popular, que paga 7% no último mês.
WOW 7%?! Isso não é óptimo?
Se formos olhar para o resto dos meses, vemos que a taxa é mais baixa, dando uma média de 4.25%. É uma taxa decente, sobretudo porque é um depósito mobilizável antecipadamente sem penalização dos juros que já foram pagos mensalmente. Mas já perde o "brilho" que os 7% apregoavam. É frequente os bancos apresentarem este tipo de depósitos, assim que atenção.
O elemento que resume todas as informações do depósito é a Ficha de Informação Normalizada (FIN). É um documento que existre obrigatoriamente para cada depósito, que indica todas as condições de acesso, taxas de juro, condições de mobilização antecipada e outras informações extra. Têm um aspecto parecido com isto (ex: FIN do depósito ouro falado acima). Antes de se decidir a investir em algo, ler muito bem estes documentos, pois se há maroscas é aqui que se vê.
Para além destas taxas, que são as taxas tabeladas em cada banco, existem ainda as taxas negociadas. Dependendo do banco e do valor em causa podem conseguir-se valores mais aliciantes.
O senão? É preciso ter alguns milhares de €€ para fazer crescer água na boca dos banqueiros.
Mas o que quer que escolha, lembre-se que a taxa de inflação prevista para este ano - o aumento previsto do custo de vida - é de 3.2~3.5%. Ou seja, se escolher DPs com taxas líquidas abaixo deste valor, está a perder valor real nas suas poupanças.
Sempre é melhor que deixar o dinheiro debaixo do colchão, mas se o puder evitar e escolher DPs com taxas melhores, porque não o fazer?
Resumindo e baralhando
Depósitos a prazo são aplicações de baixo risco (e por isso de menor rentabilidade do que outros produtos financeiros mais "atrevidos").
Devido as estas características devem ser sempre uma parte das poupanças. Têm rentabilidades geralmente baixas, mas são os instrumentos ideais para ter uma reserva de dinheiro caso uma desgraça aconteça, ou então para investidores cardíacos que não queiram ver os sobes e desces das cotações de obrigações, acções e fundos de investimento.
Escolhendo bem os depósitos, ainda se vai conseguindo uma valorização jeitosa. No meio de todas as desgraças que a crise trouxe, pelo menos tornou as rentabilidades destes produtos mais interessantes.
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